TERAPIA
OCUPACIONAL E REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL?*
Maria José Benetton**
BENETTON, M. J. Terapia ocupacional e reabilitação psicossocial: uma relação possível? Rev. Ter. Ocup. Iniv. São Paulo, v. 4/7, p. 53-58, 1993/6.
ABSTRACT.-
Making
a bibliographic brief revision of the foreign and of the national literature in
occupational therapy, including the altemative projects to "hospitalocentro"
in mental health, the author opens an important space to debate the relationship
between this profession and the psychosocial rehabilitation.
KEYWORDS.-
Occupational Therapy, trends. Rehabilitalion, trends. Mental Health.
RESUMO:
Ao fazer breve revisão bibliográfica sobre as literaturas estrangeira e
nacional em terapia ocupacional, incluindo os projetos alternativos ao
“hospitalocentrismo” em saúde mental a autora abre espaço para o debate
sobre a relação entre essa profissão e a reabilitação psicossocial. A
terapia ocupacional nasceu dentro dos programas americanos de reabilitação com
a função de, através da prática de atividades, levar à inserção social
indivíduos dela excluídos por problemas físicos, mentais e/ou sociais. Desta
forma, a terapia ocupacional mantém sua vocação e seus propósitos, seja em
centros de reabilitação, hospitais ou instituições abertas com a comunidade.
O movimento de reaproximação dos médicos em direção à reabilitação veio
acrescido de um caráter psicossocial. Parece-nos que esse caráter é o mesmo
que sempre foi defendido pela terapia ocupacional. O artigo conclui com a
seguinte questão: por que ela teria de despir-se de sua identidade para
tornar-se também “psicossocial”?
DESCRITORES:
Terapia Ocupacional, tendências. Reabilitação, tendências. Saúde mental.
A
terapia ocupacional nasceu sob o signo da reabilitação. Ao longo de sua história,
junto com a fisioterapia, o serviço social, a fonoaudiologia e a enfermagem, a
terapia ocupacional integra o núcleo de sustentação dos centros de reabilitação.
Como compreendo sua especialidade, ela tem sua ação voltada para o treinamento
e para o desenvolvimento de habilidades, na construção de um cotidiano para
indivíduos da sociedade. As diferentes teorias de base, os métodos e as técnicas
empregadas por terapeutas ocupacionais, com finalidades clínicas, não têm
alterado esse caráter vocacional da profissão.
Na literatura específica, esse caráter vocacional é pragmaticamente ordenado
como treinamento de habilidades, desenvolvimento educacional, orientação
habitacional e sócio-recreativa, objetivando assim as ações da terapia
ocupacional e a atuação das terapeutas ocupacionais.
Em 1985 a Associação Internacional de Reabilitação Psicossocial (IAPSRS)
definiu
Priorizar o social em reabilitação psicossocial implica em sair de centros de
reabilitação, de hospitais e de oficinas abrigadas para criar espaços de
intervenção na própria comunidade. KLEINMAN9, nos Estados Unidos,
considera que terapeutas ocupacionais já familiarizados com o modelo de
reabilitação proposto pela IAPSRS e dirigindo-se à adaptação funcional
dentro da comunidade, terminaram criando uma promissora alternativa de atuação.
Para que possamos compartilhar do entusiasmo de KLEINMAN9, é preciso
analisar as propostas técnico-administrativas da reabilitação psicossocial na
sua relação com a terapia ocupacional.
De acordo com a Associação Americana de Terapia Ocupacional, entre 1986-1990
houve a redução de 16% para 11,8% de terapeutas ocupacionais trabalhando em
psiquiatria. Há uma tendência muito grande em se analisar esse dado como sendo
resultado da pouca investigação profissional de modelos alternativos ao
hospitalocêntrico, que parece ter esgotado sua capacidade de produção de
conhecimento e de objetivação de saúde.
Precisamos saber, então, o que realmente aconteceu com a busca destes modelos
alternativos. Em relação à reabilitação psicossocial, por exemplo, (NEWMAN,
1991, apud KLEINMAN, 1992) 9 constatou através de uma pesquisa
realizada nas agências de reabilitação psicossocial nos EUA, que 11% das 212
agências registradas empregaram no mínimo um terapeuta ocupacional, enquanto
71% empregaram no mínimo um assistente social. Num total de 3.9522
trabalhadores de agências, apenas 24, isto é, 0,6%, eram terapeutas
ocupacionais, sendo que os assistentes sociais ultrapassaram 21%. A maioria dos
trabalhadores em reabilitação psicossocial aproximadamente 48%, são, como os
americanos chamam, “para-profissionais”. Para nós, aqui no Brasil, o mais
comum é chamá-los de “pessoal auxiliar”.
São, portanto, não profissionais. Dos 1885 “não profissionais”
pesquisados, 59% não tinham grau universitário, 40% tinham grau de bacharelado
e 1% ainda estava na Universidade.
Mantendo ainda fontes de informações próximas à literatura de terapia
ocupacional e reabilitação psicossocial, volto um pouco no tempo em busca de
explicação para alguns dados. Segundo FARKAS, apud RENWICK et al.15
para o trabalhador em reabilitação psicossocial foi criado um
dispositivo que preconizava o treinamento dentro do próprio serviço.
Formaram-se, assim, os especialistas em reabilitação psicossocial.
KLEINMAN9 pareceu-me um tanto desalentado quando, em busca de
desvendar alguns mistérios, concluiu que, teoricamente, terapeutas ocupacionais
em reabilitação psicossocial têm seu treino baseado numa abordagem holística.
As técnicas aprendidas, entretanto, parecem ser um segredo muito bem guardado.
Assim mesmo, ela concluiu seu artigo alertando os terapeutas ocupacionais de
que, embora o número desses profissionais na área.
De saúde mental esteja diminuindo, o número de pessoas que precisam dos seus
serviços não está. O que fazer, então?
Penso que, em primeiro lugar, está a tarefa de encontrar um espaço mais
confortável.
Analisando esses e outros estudos de colegas estrangeiros, é possível concluir
que há uma.
Séria questão de poder por trás da relação com a reabilitação
psicossocial. CHAMBERLIN6, num artigo crítico-reflexivo no Bulletin
World Association of Psychossocial Rehabilitation, diz que apenas pessoas
inconformadas falam sobre o poder. Creio que não: os precavidos e os esperançosos
também.
Hoje nos visita a reabilitação psicossocial. A porta é aberta por este
encontro, mas também queremos partilhar a hospedagem. Pouco conhecemos de
nossos hóspedes e tomamos, então, suas próprias palavras para apresenta-los.
SARRACENO17 nos conta que a reabilitação psicossocial prevê um
processo de restituição, construção e reconstrução de direitos políticos
legais e sociais para cada cidadão. Ele é enfático quando propõe um projeto
de reabilitação através de respostas positivas de profissionais e da
sociedade capazes de promover as emoções e o conhecimento do doente mental.
Creio que aqui podemos encontrar pelo menos uma primeira resposta à questão do
poder que se encontra presente nos trabalhos dos colegas americanos e
canadenses. A terapia ocupacional tinha um projeto técnico para a reabilitação.
Não só ela, mas também aqueles profissionais não médicos que a sustentavam.
Por algum tempo os médicos se afastaram da reabilitação, mas agora começaram
a retornar. Para KLEINMAM9, esse retorno a partir de 1986 é
caracterizado como uma remedicalização. Como compreendo, principalmente através
do que tento apreender da reabilitação psicossocial, a proposta é de uma
ampliação do que era um projeto técnico para incluir o chamado sócio-político.
Com isso imagino que a apropriação médica traz também, em conseqüência,
uma melhor estrutura na intervenção medicamentosa. O que poderia ser tomado,
então, como causa para a aproximação médica à reabilitação, pode bem ser
uma boa conseqüência. Creio que a presença do médico, detentor de maior
poder também sobre os projetos de reabilitação, dá a este maior chances de
sucesso. Temos o dever de receber com esperança qualquer projeto dessa ordem e
torcer para que se transforme em realidade.
O contrário das colegas do norte, as brasileiras têm sido bastante ativas e
arrojadas no processo de desospitalização, da mesma forma como estão
empenhadas em investir em programas na comunidade. Das três teses de doutorado
de terapeutas ocupacionais defendidas em saúde mental no país, duas delas, de
MEDEIROS12 e de LANCMAN9, tratam dessas questões e de
suas conseqüências. MÂNGIA et al.11, questionando a transformação
do Hospital Juqueri, afirmam que:
“...
a instituição não suporta a possibilidade da reinserção social real da
população nela internada. Isso significa sua própria negação, a perda do
seu papel. Ela impõe a todos, internos e funcionários, a reclusão e o
confinamento nos pátios, mantendo-os longe das ruas e da vida das cidades,
excluídos até a morte”.
Há
um tipo de exclusão na terapia ocupacional que os próprios terapeutas
ocupacionais colocam à mostra. NASCIMENTO13 diz o seguinte:
“A
intervenção técnica centrada na atividade laborial (a marcenaria, a pintura,
etc.) ou na relação terapêutica, opera uma divisão entre o técnico e o político
que só beneficia a própria técnica porque a exime de assumir outras
responsabilidades. E tranqüiliza artificialmente a nossa consciência”.
Sobre
essa exclusão, FRANCISCO7 traz à tona a ética, na dramaticidade do
sujeito-paciente no contexto da saúde, como objeto de fácil manipulação.
OLIVER14 nos leva aos filantrópicos centros de reabilitação
brasileiros e nos mostra terapeutas ocupacionais paternalisticamente
“fabricando indivíduos”, como puro exercício de reabilitação. Como
nesses centros não está prevista a inserção social de sua população, ela
passa a vida girando em torno de exercícios de reabilitação.
BARROS1, 2, crítica dos projetos americanos e profunda estudiosa da
política-social basagliana, ultrapassa esse conhecimento para nos chamar a
reconhecer a existência de uma terapia ocupacional brasileira.
Esta, com seu diálogo com a psicologia, é diferente da americana, puramente
funcionalista, e imposta aqui ao nascer da profissão. Ela ainda prediz:
“Acredito
que a terapia ocupacional no ano 2000 deverá voltar-se para a construção
permanente de um saber solidário diante da dor humana, e deverá voltar-se para
a necessidade de uma produção teórica que seja capaz de captar a realidade e
oi movimento social”.
FURTADO8
propõe como forma de chegar lá, isto é, ao futuro, uma reflexão sobre o que
é o fenômeno em si, em terapia ocupacional, e o que é seu objeto.
As colegas que acabo de apresentar já estão incorporadas do espírito dualístico
da reabilitação psicossocial, ou seja, da especificidade profissional aliada
à política social, como sempre tem enfatizado BERLOTE5. Quanto a
mim, usufruindo de todos esses conhecimentos e informações levantadas pelas
colegas terapeutas ocupacionais, posso dar-me ao luxo de particularizar.
Para começar, tomo emprestada a inquietação do querer-saber-futuro do antropólogo,
etnólogo, educador, ficcionista, poeta e socialista, RIBEIRO16:
"Só resta uma saída: é brigar para construir no futuro uma sociedade de
tecnologia muito avançada, mas com o gosto de viver a cordialidade, o respeito
recíproco e a liberdade que os índios tinham”.
Juntando esta que pode muito bem ser uma receita com as inquietações de BARROS2
e
de
FURTADO8, ando
as voltas
com o avanço técnico da terapia ocupacional. Por um lado, quase como mecanismo
de reação, tenho procurado a especificidade da terapia ocupacional, em
contra-posição ao puro e simples movimento de adaptação a projetos de Saúde.
Por outro lado, a especificidade é que vai qualificá-la de social e, portanto,
passível de transmissão. Creio que em todos os lugares onde a terapia
ocupacional é respeitada, ela poderá, em cordial interdisciplinaridade,
cumprir propósitos da reabilitação psicossocial.
A questão
que particularizo não tem a ver, então, com os propósitos da reabilitação
psicossocial, uma vez que os compreendo amplos e abertos para "negociações"
político-sociais. Como a terapia ocupacional, para mim, tem como propósito
final à inclusão social do excluído, é preciso começar a avaliar, no
social, sua real eficácia. Esta é a grande questão atual. Se por um lado
penso que é preciso aferir a inclusão, por outro temos de admitir que uma
questão ética ganha o primeiro plano. A aferição se fará pelo novo ou pelo
readquirido?
Se
meu olhar se volta à crença na reabilitação, pelo re fico
testando o novo na sua relação com o velho. Mas será que alguém que teve um
dedo quebrado e que depois da reabilitação ficou completamente curado. Será
que ele é a mesma pessoa? Parece que não. Ele teve a experiência de não
poder usar um dedo e depois pôde usá-lo novamente. Isto, queiramos ou não,
acarreta mudanças. Mesmo que o problema tenha sido de pequeno porte, a pessoa
testou e foi testada até que o dedo ficasse bom. A mudança é apenas de reaquisição?
Vejamos,
agora: quando um esquizofrênico fica bom? Quando ele volta ao que era antes?
Sabemos que ele não volta e com
isso corremos dois grandes riscos: o primeiro é mantê-lo para sempre em
testes; o segundo é conseqüência do primeiro, ou seja, é nunca poder
considerá-lo reabilitado.
A
busca de aferição c a ética na minha profissão levaram-me a um
afastamento quase que definitivo de todo conceito que implique em "recobramento"
no sentido da restituição do estado anterior. Desta forma, não há comparações.
Apenas o vivido e o experimentado tornam-se subsídios para o futuro. Com isso,
exponho francamente minhas preocupações com essa outra dualidade aparente da
reabilitação psicossocial.
Todo um novo e arrojado projeto que alia a saúde e a comunidade
sociopoliticamente pode ficar definitivamente atrelado a um termo
comprometido como é "reabilitação"? Ou melhor, de que forma é a
proposta da própria reabilitação psicossocial para revitalizar o termo
"reabilitação" de maneira a separá-lo da memória social circulante
e circunscrita por aspectos legais, jurídicos e militares, isto é, de estados
de exceção?
Um estado de exceção é, sem dúvida, o fato de se estar doente. Não consigo
ver a reabilitação psicossocial com propósitos circunscritos a esse estado.
Creio, inclusive, que internações projetadas através de estratégias de
reabilitação psicossocial, para estágios iniciais da doença, estabelecem a
possibilidade de melhor prognóstico do que os promovidos pela simples
medicalização. Dessa forma teremos menos ainda que nos preocupar com reabilitação.
Em síntese, o termo "reabilitação" precisa ser desvinculado de
estados de exceção e precisa, ao mesmo tempo, ter e manter compromissos de
fato com o desenvolvimento de vida, qualquer vida, no sentido da trama do
cotidiano, que implica na aceitação de tudo o que é habitual. Talvez por não
imaginar beneficies e por não admitir mais "reabilitação" como algo
ligado à prática da desconstrução, seja ela qual for, ouso sugerir o
abandono e a substituição do termo a World Association of Psychossocial
Rehabilitation.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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NOTA
DE RODAPÉ
*Comunicação
apresentada no Encontro Brasileiro de Reabilitação Psicossocial, realizado na
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, 1-3 de junho, 1995.
**Dra. Em Saúde Mental. Profa. Do Curso de Graduação em Terapia Ocupacional do Centro de Docência e Pesquisa em Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Endereço para correspondência:Recebido para publicação: setembro de 1996 Aceito para publicação: outubro de 1996.